Somos cobrados diariamente para mostrarmos sucesso, demonstrações de
alegria e “alto-astral”, disposição constante, corpo escultural, pro-atividade,
entre outros estados “maravilhosos” de saúde e alegria duradouros. Como se isso
fosse natural!
Essa cultura do êxito e “alegria” nos é transmitida desde crianças,
quando somos educados a sermos triunfantes, bem sucedidos, animados e até
eufóricos. Não há lugar para o fracasso, a tristeza, a dúvida ou a
problematização. Portanto, não aprendemos a lidar com a perda, o luto, a
frustração e a tristeza. O que interessa é o momento imediato, a experiência
espetacular. O estar sempre bem.
E se não conseguimos, temos à disposição poderosas soluções para a
falibilidade humana produzidas por grandes laboratórios farmacêuticos que
prometem (e cumprem) saídas mágicas para estados de tristeza, estresse,
angústia e cansaço resultantes desse estado de cobrança de uma sociedade que
nos exige resultados “positivos” 24h por dia, 7 dias por semana; bem como para
estados provocados por perdas e lutos reais pelos quais passamos em maior ou
menor grau todos os dias (desde o não atendimento a desejos e necessidades
diárias até a perda de pessoas queridas). Também temos à disposição drogas
ilícitas, comercializadas pelo narcotráfico. Ou seja, um arsenal para evitar
sentimentos tidos como ruins.
E assim vivemos na contramão do que é ser humano. Como resultado,
vivemos ansiosos, insatisfeitos, com baixa autoestima e inseguros.
Fazem parte da natureza humana sentimentos de perda, luto, frustração e
tristeza pela impossibilidade de realização de nossos desejos e atendimento às
nossas necessidades, bem como sentimentos de dor pela falta. Precisamos sentir
a tristeza, a dor, o vazio, a frustração. Precisamos chorar. Esses sentimentos
são humanos e precisam ser vivenciados. A falta da permissão em senti-los pode
contribuir para o surgimento de sintomas depressivos e estados de melancolia,
quando não levam à depressão ou outras doenças.
Como você pode não estar mais acostumado a se autorizar a ter essas
experiências, comece reconhecendo que são importantes por ser da nossa
natureza. Não se ache um ser estranho se elas vierem à tona, muito menos
julgue-se um desajustado ou “problemático”. Aos poucos volte a conviver com
elas e, portanto, com você mesmo. Brigue menos contra sua natureza e evite
criticar-se quando das vivências desses sentimentos. Aos poucos você vai notar
que, da experiência vivida (e não negada), resulta um bem-estar, uma
tranquilidade e, por que não, uma ampliação das possibilidades de suas
experiências de vida.
Mas se você achar que pode ter dificuldade em experimentar seus sentimentos procure um psicoterapeuta.
Mas se você achar que pode ter dificuldade em experimentar seus sentimentos procure um psicoterapeuta.
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