“Uma das
características da administração moderna, consiste em considerar a realidade
apenas através de métodos quantitativos, em acreditar que só se pode dominar um
problema quando o formulamos em termos quantitativos, como se o que fosse
enumerado fosse indiscutível porque é cientifico. Pensa-se muitas vezes que
basta quantificar para encontrar a solução para problemas colocados, pois assim
coloca-se a “objetividade” em oposição à subjetividade do poeta ou do politico.
Esta concepção, que se pretende racional, tende a reconhecer o indivíduo apenas
em função da utilidade para organização, utilidade essa medida através da
avaliação quantificada de seu rendimento e de sua adaptação às regras e
mecanismos que veiculam as exigências do sistema. Ela é sustentada por uma
linguagem cujo modelo é matemático. Esta linguagem se pretende universal e
científica, e serve de verniz às técnicas de poder que encobre”. [...] Algumas das técnicas podem ser os testes, entrevistas, avaliações de
desempenho, uso de metas entre outras, “toda uma serie de procedimentos muito
elaborados que permitem descrever, pesar, medir, comparar, classificar e
ordenar” o desempenho das pessoas de acordo com um sistema. [...] “Neste universo o
homem é despersonalizado na medida em que seu potencial, medido a partir dos
resultados que entrega, tomam para ele o lugar de identidade” (Pagès, 1987).
Esse texto escrito
em 1987 (imaginem!) extraído do livro “O Poder nas Organizações” (Ed. Atlas)
- tido como um dos clássicos da
Administração de Empresas, reforça o motivo pelo qual muitos de nós somos
dependentes dos resultados que obtemos nas empresas. Em função da maneira como
o sistema esta construído, onde nossa identidade é moldada e definida pela
empresa, acabamos por deixar nossa autoestima nas mãos da empresa. Se somos mal
avaliados, nos sentimos mal; se a empresa não valoriza nossas entregas duvidamos
da nossa capacidade. É incrível a distorção que o sistema (capitalista)
provocou no entendimento que temos do nosso trabalho.
Buscando minimizar
essa situação, aproprie-se da sua carreira e valorize-a. Se uma empresa entende
que suas entregas não estão de acordo com seus parâmetros, isso não quer dizer
(e não pode significar) que você seja uma pessoa incompetente. Você pode,
obviamente, buscar atender ao que lhe é solicitado, mas sempre lembrando que
você é quem tomou a decisão de fazer como a empresa pede. E que a qualquer
momento você pode parar de fazer o que lhe é pedido se isto estiver lhe fazendo
mal.
Cuidado! Temos que
evitar que a nossa identidade seja de propriedade da empresa.