sexta-feira, 27 de março de 2015

Nossa identidade não é de propriedade das empresas!

“Uma das características da administração moderna, consiste em considerar a realidade apenas através de métodos quantitativos, em acreditar que só se pode dominar um problema quando o formulamos em termos quantitativos, como se o que fosse enumerado fosse indiscutível porque é cientifico. Pensa-se muitas vezes que basta quantificar para encontrar a solução para problemas colocados, pois assim coloca-se a “objetividade” em oposição à subjetividade do poeta ou do politico. Esta concepção, que se pretende racional, tende a reconhecer o indivíduo apenas em função da utilidade para organização, utilidade essa medida através da avaliação quantificada de seu rendimento e de sua adaptação às regras e mecanismos que veiculam as exigências do sistema. Ela é sustentada por uma linguagem cujo modelo é matemático. Esta linguagem se pretende universal e científica, e serve de verniz às técnicas de poder que encobre”.  [...] Algumas das técnicas podem ser os testes, entrevistas, avaliações de desempenho, uso de metas entre outras, “toda uma serie de procedimentos muito elaborados que permitem descrever, pesar, medir, comparar, classificar e ordenar” o desempenho das pessoas de acordo com um sistema. [...] “Neste universo o homem é despersonalizado na medida em que seu potencial, medido a partir dos resultados que entrega, tomam para ele o lugar de identidade” (Pagès,  1987).

Esse texto escrito em 1987 (imaginem!) extraído do livro “O Poder nas Organizações” (Ed. Atlas) -  tido como um dos clássicos da Administração de Empresas, reforça o motivo pelo qual muitos de nós somos dependentes dos resultados que obtemos nas empresas. Em função da maneira como o sistema esta construído, onde nossa identidade é moldada e definida pela empresa, acabamos por deixar nossa autoestima nas mãos da empresa. Se somos mal avaliados, nos sentimos mal; se a empresa não valoriza nossas entregas duvidamos da nossa capacidade. É incrível a distorção que o sistema (capitalista) provocou no entendimento que temos do nosso trabalho.

Buscando minimizar essa situação, aproprie-se da sua carreira e valorize-a. Se uma empresa entende que suas entregas não estão de acordo com seus parâmetros, isso não quer dizer (e não pode significar) que você seja uma pessoa incompetente. Você pode, obviamente, buscar atender ao que lhe é solicitado, mas sempre lembrando que você é quem tomou a decisão de fazer como a empresa pede. E que a qualquer momento você pode parar de fazer o que lhe é pedido se isto estiver lhe fazendo mal.

Cuidado! Temos que evitar que a nossa identidade seja de propriedade da empresa.


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